L A K S H M I

Existem várias narrativas sobre o nascimento de Lakshmi, o grande arquétipo feminino da abundância, do provimento e satisfação das nossas necessidades.

As escrituras sagradas dos Vedas e Puranas, sendo este o livro que narra os mitos, histórias e fábulas, descrevem o nascimento de Lakshmi dentro do contexto da cosmogênese hinduísta. Descreve o papel preponderante que a grande mãe exerce entre os seres divinos e demoníacos e como ela delega seus poderes de forma a propiciar o equilíbrio entre as forças do bem e do mal, ou seja, o princípio da dualidade que começa a se manifestar durante a criação do nosso universo.

Conta a lenda que enquanto Vishnú dormia por meio dos seus sonhos ele gera o nosso universo. Durante esse sono uma flor de lótus nasce do seu umbigo e começa florescer. Ela cresce e se transforma até se assemelhar a um ovo no meio de uma flor. Nesse ovo é chocado um ser masculino de quatro faces chamado Brahma. Brahma representa a Mente, e dentro desta Mente ou Consciência primordial, emerge um anseio imenso de criar e se multiplicar.

Narayana (Vishnú) representa o Ser, Brahma representa a Mente. Dentro dele surge o desejo de se propagar. Da Mente surge o desejo.
Mas, antes que Brahma pudesse fazer qualquer coisa com o seu desejo, dois demônios surgem do ouvido de Narayana que continuava adormecido. Estes dois demônios querendo se divertir decidiram mostrar o lado negro da sua natureza.
Brahma está plenamente consciente da sua vulnerabilidade. Ele sabe que alguma coisa terrível pode acontecer e grita por Narayana para lhe dar ajuda, mas, este continua adormecido. Por um momento nada acontece. Brahma horrorizado observa como os demônios começam a ir em direção a flor no umbigo de Narayana.

Mas, neste mesmo instante, uma grandiosa e linda figura feminina surge do corpo
adormecido de Narayana.
Observando Brahma e os demônios invasores ela diz:

“O que temos aqui?”

Diz Brahma: “Eu estou sendo ameaçado por estas horríveis criaturas e nem se quer
eu ainda estou formado. Por favor, acorde Narayana para que eu possa ser salvo”.
Então, a radiante figura feminina volta-se para os demônios e diz:

“Estou vendo” e os demônios dizem: “Ó Grande Mãe, nós realmente não pretendemos nada.” E Brahma afirma: “ Sim eles pretendem, pretendem me fazer mal, e eu suplico
por sua proteção.”

“Eu entendo o que se passa por aqui, preciso proteger este nascimento contra vocês dois.” Disse esta figura feminina para os dois demônios, que replicaram dizendo: “Nós não faremos mal algum, apenas nos mande para bem longe daqui. Você não vai querer matar-nos quando nós não fizemos nada, não é?”
“Destrua-os imediatamente”, pede Brahma, “antes que eles ataquem até mesmo você”.

Refletindo por um momento a figura feminina decide:

“Narayana criou todos vocês. O seu sonho será o material de todo um novo universo, e nele todos vocês deverão combater uns aos outros no devido curso de tempo. No momento, eu ordeno que quando o universo tiver completado sua primeira fase de criação, a fase etérica, vocês demônios deverão se afastar, para o mais longe possível deste lugar. Vocês precisarão de muito tempo para voltar até o centro das coisas. Enquanto isto, eu lhe darei abrigo e proteção Brahma, enquanto você termina seu ato de criação.”

Brahma então suplica:

“Grande Mãe quem é você? Eu preciso saber o nome da minha salvadora e benfeitora”.

Ela responde: “Eu sou a esposa daquele que dorme. Eu Sou seu Eu feminino, a sua energia, sua sabedoria e todo poder que ele manifesta em qualquer forma. Eu me chamo Lakshmi. Assim como eu sou para Narayana, cujo sonho é este, eu também serei para você Brahma o seu poder e toda energia desta sua criação. Para você me manifestarei como Saraswati aquela que é autoconsciente e com pleno conhecimento daquilo que você criará. Eu serei sua fala divina, que você usará para criar toda e qualquer coisa. Como seu aspecto feminino Saraswati eu dou a você o poder de criar.”

Brahma percebeu que enquanto Lakshmi falava, ele continuava crescendo até sair do lótus. Agora que ele estava completamente livre da flor, viu uma figura feminina, uma forma diferente e radiante ao seu lado. Era Saraswati, corporificação da fala divina, aspecto feminino de Brahma, assim como Lakshmi é o aspecto feminino de Vishnú.

Saraswati, a personificação da fala divina, agora ao lado de Brahma, olha para ele com um olhar que continha o infinito e funde-se em Brahma totalmente. Ele, então, lembrando-se do desejo que começara a esboçar quando os demônios apareceram e perturbaram seus pensamentos, fechou os olhos e com os lábios cerrados emitiu um zumbido vibrante e reverberante. Durante um segundo a nota pairou na escuridão, então brotou uma bolha que crescia muito, tornando-se cada vez maior sem que nenhum tempo houvesse transcorrido.

Naquele preciso momento, uma bola de luz emergiu do adormecido Narayana. A nota entrou na bolha e se fragmentou em milhões de centelhas de luz. Alguns pedaços eram maiores que outros, mais a maior parte dessa multidão de centelhas de luz eram quase do mesmo tamanho. Elas se tornariam as almas, as várias formas de atman que se tornariam as pessoas do novo universo, que estava até hoje num processo de vir a ser. Deleitando-se com o que ela pusera em movimento, e agora desencarnada, Lakshmi falou pela última vez: “Aquele que fez este cosmos através de você está agora atuando nele. Eu também aparecerei no momento apropriado, e você, igualmente, tomará parte nesse grande jogo. Você Brahma, enquanto Mente do Cosmos, você será o Avô que sabe e compreende tudo. Saraswati sua contrapartida feminina abençoará todos os buscadores sinceros com sabedoria e poder. Ela será o auge da sabedoria e do conhecimento, e todos os que amam o conhecimento a ela aspirarão. ”Dizendo isto desaparece.

Brahma descobriu, com muito espanto, que ele podia milagrosamente, perfurar e entrar na bolha da sua criação. Foi o que ele fez. O universo em expansão, com seus conceitos de tempo, distância, espaço e começo. Brahma então pode entender porque Narayana entrou em seu sonho.

Assim como Narayana é o Ser e Brahma é a Mente, a grande energia feminina Saraswati é a shakti de Brahma, o seu poder. Ela “fala” uma grande idéia através da concepção mental dele e o cosmos nasce. Criaturas de todas as formas e descrições passam a existir, e o jogo do universo se desdobra. Neste ponto da criação aparece a dualidade, o principio do bem e do mal, masculino e feminino se manifestam através de Brahma. Todas as forças dualísticas existiam num estado não físico, etérico, onde se desdobraram durante um longo período.

Nesse domínio etérico da dualidade, as forças boas dos seres celestiais lutavam contra as forças más dos demônios, pela obtenção da supremacia total.
Ora um grupo obtinha vantagens, ora predominava o outro lado.
Ambos os grupos sabiam que no final surgiria um estado de paralisia ou repouso, na qual a existência do universo efetivamente acabaria. O universo com ambos os grupos incluídos como parte integrante dele, deixaria de existir. Esta situação de deixar de existir era contingência que nem os demônios e nem os seres celestiais poderiam aceitar. A única maneira de preservá-los da morte com o fim do universo seria uma preciosa substância conhecida como o néctar da imortalidade. Quem bebesse dele nunca morreria.

Infelizmente, durante essa batalha o néctar da imortalidade foi perdido. A única maneira de recuperá-lo seria bater o oceano da consciência.. Este era um trabalho imenso. Muito grande para as forças do bem e do mal realizarem sozinhas. Para que esta batedura fosse bem sucedida seria necessário uma cooperação sem precedentes.
Graças aos seus esforços combinados, aparece Lakshmi, a Deusa da Abundância, e assim nosso universo físico foi criado.

A batedura do oceano da consciência representa a separação entre o joio e o trigo. Trata-se da eliminação do nosso ego, dos demônios criados através dos nossos sentimentos, sistemas de valores, crenças e de todas as formas de apego. É o processo de transformação da nossa mente. É a iluminação da nossa consciência quando amalgamada com a divindade existente em cada um de nós. É o “ Fiat lux”. Neste momento de encontro com a divindade que bebe-se o néctar da imortalidade.

O NASCIMENTO DE LAKSHMI

Indra era o chefe das hostes celestes. Estava muito preocupado com a reunião que se formaria entre os deuses e os demônios. Embora ele fosse o chefe das divindades pouca coisa poderia ser feita, pois o seu poder era limitado. Agora ele tinha que respeitar o acordo feito com os demônios para que o universo não fosse destruído. Ele mesmo, Indra havia conduzido as divindades para esta situação e não tinha outra opção senão seguir adiante.

Numa reunião dos seres celestiais, Durvasas, um sábio etérico muito ríspido, irascível, mas de muito poder, foi honrado com uma guirlanda de flores perfumadas que ele gostava de exibir. Logo depois que Durvasas recebeu a guirlanda, Indra passou perto dele, e Durvasas perguntou-lhe:
“Não é linda?” e Indra dando de ombros responde:
“Está tudo bem, eu suponho.”

Durvasas enfurecido por Indra tratar a sua guirlanda com desdém, profere uma maldição para enfraquecer o poder de Indra como chefe dos seres celestiais. Os demônios se valeram deste enfraquecimento de Indra, e deram início a uma guerra contra os seres celestiais, obtendo vantagens em algumas ocasiões. Entretanto, nenhum dos lados podia prevalecer e todos sabiam que se não recuperassem o Néctar da Imortalidade todos morreriam.

Depois de uma trégua, Indra convoca uma reunião com os seres celestiais e com os demônios e diz: “Se nós quisermos ser verdadeiramente imortais, precisamos encontrar uma maneira de bater este oceano da consciência. Caso contrário, todos nós ficaremos vagueando sem fim em formas fantasmagóricas, combatendo uns aos outros pela supremacia de um espaço fluídico que não tem substância e nem valor inerente. Bater este oceano, inevitavelmente será revelada a localização do Néctar da Imortalidade que todos nós procuramos.”

Existia aqui uma armadilha. Estava bem claro que, todos os demônios e deuses somente conseguiriam recuperar o Néctar se agissem conjuntamente. Mas, também ficou claro que todos que bebessem do Néctar se tornariam imortais, tanto os deuses como os demônios, em todos os mundos. Assim sendo, um conflito entre os dois grupos iria se perpetuar por toda eternidade. Mas não havia outra maneira de resolver esta situação.

Um dos demônios disse: “Eu concordo, vamos logo em frente com isso.”
Indra continuou: “ Primeiro nós temos que descobrir um centro para a nossa batedura. Nossos esforços criarão imensas forças de natureza centrífuga e centrípeta. De algum modo elas precisam ser contidas e dirigidas para nosso uso e eu estou aberto para sugestões.”

“Parte da minha consciência está ancorada em uma montanha etérica de tal resistência que ela não será abalada pela forças que todos vocês aplicarão”, disse Shiva. Além disso, eu pedi ao grande salvador da percepção volitiva individual, meu amigo Vishnú, que invista uma porção de si mesmo como Kurma, a tartaruga. É sobre seu heróico dorso que a batedura pode repousar sem romper o tecido deste universo etérico.

Finalmente eu posso afirmar que a serpente Vasuki se ofereceu como voluntária para ser usada como bastão para a batedura, de modo que todos vocês terão um lugar onde se agarrar em seus esforços para bater. Voltando-se para a serpente Shiva fala: “ Para mim, você será sempre muito querida por ter se oferecido voluntariamente.”

Vasuki concordou com a cabeça, e se preparou depressa para se prender firmemente no Monte Mandara. Em breve a ação começaria. A batedura do oceano etérico da consciência havia começado. Cada vez mais depressa, os seres celestiais e os demônios corriam ao redor do ponto central, e o oceano começou a se turvar com os flocos de matéria que acabariam por se tornar nosso universo físico como nós o conhecemos.

Antes mesmo que a batedura chegasse ao meio, fatos prodigiosos e mágicos começaram a aparecer. Vários dentre os seres celestiais e demônios começaram a reivindicar esses fatos inesperados de generosidade conforme eles emergiam da sopa cósmica. O grande orbe lunar Chandra aparece gloriosamente. Sem ser inanimada como é hoje, a Lua estava cheia de vitalidade e destinada a conduzir grandes soberanos da humanidade numa época futura. Outros fatos transcendentais também surgiram desta batedura.
Apareceu um elefante celestial, que Indra tomou para si como seu animal de montaria. Resplandecendo por toda sua volta, ele desafiava qualquer demônio ou ser celestial a se opor a ele. Pedras Preciosas, uma árvore mágica, uma vaca que realizava desejos, e outros itens apareceram e foram reivindicados um a um. No auge da batedura aparece uma jóia deslumbrante, mas que ninguém sabia quais eram seus poderes, e muito menos seu uso. Esta jóia flutuou e fundiu-se em Vishnú, em seu peito uma mão abaixo da reentrância da garganta. E Vishnú falou: “Esta jóia, escolheu a mim para sua morada. Por meio do seu poder, eu posso fazer com que uma coisa aconteça ao falar em voz alta ou silenciosamente, tudo o que eu pronunciar com um determinado propósito, será realizado. Abençoada por Saraswati
esta grande jóia que realiza os desejos e que eu agora utilizarei para proteção dos piedosos e para salvaguardar o desenvolvimento das almas santificadas. Eu permitirei que uma porção dela resida naqueles que me são queridos, que me ajudam nas minhas tarefas divinas.”

Terminando de falar, Vishnú retorna à sua tarefa de bater o oceano da consciência.
Subitamente, uma mulher deslumbrante surgiu das névoas. Vestida com um sári cor-de-rosa, enfeitado com ouro, prata e pedras preciosas, flutuou ao lado dos seres celestiais.Todos ficarão perplexos com tamanha beleza e compaixão que dela emanava. Era Lakshmi, esposa de Vishnú e parte dele próprio.

O momento mágico havia acabado. Indra dando um passo à frente declara: “ Eu reivindico esta mulher como sendo minha. Como chefe dos seres celestiais eu exijo este direito. Se qualquer um do clã dos asuras (demônios) se opuser a mim, que tome sua arma e se ponha em posição. Estou pronto.”Ninguém se moveu.” “Bom”, disse Indra, agora venha e fique ao meu lado grande deusa.

Lakshmi deu um passo à frente e falou: “Narayana me mandou para mostrar para vocês o Néctar da Imortalidade que todos buscam. Sendo eu seu vaso de abundância, deverei abastecer a todos vocês com este Néctar e com muita outras coisas. Saibam que sempre onde houver riquezas, bons amigos, colheitas, e alimentos abundantes, crianças saudáveis, e quaisquer outras circunstâncias de abundância foi a minha benção que proporcionou tudo isso. Sempre misericordiosa, eu ouço as súplicas de todos que buscam sinceridade e respondo sempre com a rapidez da graça que cada mãe concede aos seus filhos bem-amados. Contudo, não confundam minha natureza generosa com fraqueza. Eu tenho outras manifestações que fariam vocês tremerem se as conhecessem. No entanto, sob esta forma de Lakshmi, minha natureza é dar à vocês em abundância.”

Indra dando um passo à frente, apressou-se em dizer: “Sim, quem quer que me agrade, eu ordenarei à ela que dê a essa pessoa da mais pródiga maneira. Eu naturalmente sou muito generoso por natureza.”

Lakshmi volta-se para Indra e responde: “ Ó vós, o mais generoso, agora demonstrareis o quão profundamente essa veia de dar está arraigada em vós. Pois eu não vou ser a vossa consorte e nem a vossa posse. Vós que antes de mais nada estais preocupado com a vossa posição, precisais dedicar todo o vosso talento e energia para manter essa posição. Eu estou destinada a outro, cuja única preocupação é o bem estar dos justos. Eu falo naturalmente de Vishnú.” Ao dizer isto, ela deslizou para Vishnú e afetuosamente passou o braço em volta do seu pescoço.

Em seguida Lakshmi fala a multidão, instruindo a todos eles: “Minha forma é composta de vibrações como o são também as outras formas do universo. Como a minha forma é a natureza da abundância qualquer pessoa que chamar pelo meu nome por meio de vários métodos místicos será recompensado. Aqueles que querem filhos magníficos em beleza e encanto irão tê-los graças aos poderes dos meus mantras. Outros ainda que queiram amor e libertação terão pelas graças contidas nas fórmulas espirituais místicas que compõem as vibrações da minha forma. Todos os tipos de siddhis (poderes divinos) podem ser obtidos. Mas, saibam que tudo isto será possível graças ao Ser cujos pensamentos oníricos tornaram possível este universo: Narayana. Na verdade eu estou nele e ele está em mim. “Fazendo uma breve pausa Lakshmi continua: “ Agora eu confiro ao compassivo Vishnú todos os poderes disponíveis para completar a sua tarefa divina a partir de agora até o fim dos tempos e além.”

Falando isto, ela rapidamente diminuiu de tamanho ficando não maior do que uma mão fechada de uma pessoa. Aí, ela fundiu-se no peito de Vishnú, pulsando como parte do seu próprio coração celestial de onde um fulgurante cordão de luz deslizou por sua espinha até a base, fez uma breve pausa e se moveu para cima até sua cabeça, enchendo-a de gavinhas de energia dourada, semelhante a uma teia de aranha.

Vishnú estava envolto em bem-aventurança, e falou sem ouvir a própria voz: “O amor de Deus, por qualquer porta que ele venha, é o fim de todos os desejos e anseios.”
Dizendo isto, se afastou imerso no crescente conhecimento do seu papel e do seu poder no novo universo material que estava rapidamente emergindo da batedura que
havia chegado ao fim. Lakshmi, passando a residir em seu coração, se ligara a grande shakti que repousava serenamente na base da coluna de Vishnú. Ao juntar-se a ele dessa maneira, ela o sobrecarregara em todos os sentidos. Um minúsculo filamento de luz transportando a shakti penetrou na jóia Kuasthuba, pouco abaixo da garganta de Vishnú e brilhou intensamente.

Parvati consorte de Shiva comenta com seu, marido: “O poder do nome místico de Lakshmi impulsionará milhares de almas, conduzindo-as deste universo material para a praia divina.”

Lakshmi, sempre ligada com Vishnú, irá acompanhá-la em todas as suas encarnações, para proteger os piedosos e restabelecer o dharma (lei divina) aqui neste plano físico.

Assim, Lakshmi acompanhando Vishnú na sua encarnação como Rama ela parecerá como Sita. Na sua encarnação como Buda ela irá manifestar-se como Tara, aqui, porém, somente em espírito. Com Krishna ela vem como Radha. Aonde quer que Vishnú se manifeste ela estará com ele de uma forma ou de outra. Indra, muito desgostoso com seu abandono, fala em voz alta sem se dirigir a alguém em particular: “De que adianta ser o chefe dos seres celestiais se eu sou tratado desse modo.”

“Cuidado!” disse Shiva. “ Você sabe muito bem que pode ser substituído como chefe. Esteja em alerta. Mas, não se preocupe, eu irei ajudá-lo.”

Vishnú também fala a Indra: “Como nosso nobre líder, você constantemente combate os demônios. É uma tarefa ingrata. Portanto eu estarei sempre disponível para vir em sua ajuda em tempos de dificuldades. Além disso, eu sempre o honrarei como chefe de todos os seres celestiais. Não importa o que acontecer, eu não o abandonarei.”

Indra abaixando a cabeça diz: “Eu escuto suas palavras de apoio Vishnú, e não tenho dúvidas de que o poder benevolente de Lakshmi o inspirou dessa forma. Eu, portanto, honro, a você como o escolhido dela como se fosse essa minha própria escolha, e expresso sincera alegria à sua manifestação de amizade e apoio. Além disso, onde quer que os louvores a Lakshmi sejam cantados ou proferidos, eu espalharei chuva e ventos propícios para ajudar as colheitas crescerem de modo adequado. De qualquer forma que eu puder promover a benevolência de Lakshmi, eu o farei.”

Sempre que as batalhas celestiais são travadas, é Indra quem lidera a oposição às forças negativas de destruição. E, Vishnú está ao seu lado cumprindo sua palavra.
Nesta reunião, os seres celestiais e os demônios ficaram deslumbrados com o aparecimento de Lakshmi, e haviam se esquecido do Néctar da Imortalidade, que ainda não havia aparecido.

De repente, nessa batedura surge um sábio desconhecido, que caminhou através das estrelas recém-nascidas carregando uma urna. Ele emitiu num sorriso um feixe luminoso de energia revigorante, e todos se sentiram enaltecidos com a visão deste sábio. Enquanto se aproximava da multidão, o sábio falava: “É verdade que sou desconhecido para vocês,mas o que eu carrego é o que vocês estão procurando. Eu sou Dhanvantari, e fui criado pela graça de Lakshmi. Meu trabalho é o do médico e agente das curas. Neste cântaro está o Néctar da imortalidade que fez com que todos vocês se entregassem à realização de tamanha tarefa, bater o oceano da consciência e trazer o universo físico à existência. Por favor façam fila, que eu darei um gole a cada um de vocês.”

Obedientemente, todos fizeram fila, e cada um no seu devido tempo recebeu uma porção do precioso líquido. Para impedir que ficassem impacientes Dhanvantari lhes falou sobre plantas e ervas que seriam muito úteis neste novo universo. E,também, entoou mantras e ensinou várias disciplinas sobre o fogo e a água que proporcionariam alivio em várias situações. Ele concluiu seu discurso quando o último demônio e o último ser celestial receberam uma xícara cheia do Néctar da Imortalidade.

“Foi Lakshmi que me trouxe aqui. Foi através da sua graça que os métodos de cura e o Néctar recuperado foi gerado pelos esforços de vocês. Como emanação da abundância de Lakshmi, eu solicito à vocês que cantem sempre os seus louvores e nunca se esqueçam da generosidade que Ela demonstrou á todos os que estão aqui hoje. Afortunados somos nós a quem ela prometeu que, a partir deste dia, entregará uma medida plena da sua abundância para todos aqueles que genuinamente a procurarem.”

Concordando com a cabeça os seres celestiais e os demônios se afastaram, e se dispersaram no cosmos. Alguns permaneceram na sua existência etérica e outros vieram para o oceano do universo material emergente para experimentarem esse processo denominado de fisicalidade.

No hinduísmo, temos a trimurti Brahma, que representa o princípio criador, Vishnú o princípio conservador e Shiva princípio transformador. Esta trimurti ,também, se manifesta no seu aspecto feminino representada através de Saraswati (emanação feminina de Brahma), Lakshmi (emanação feminina de Vishnú) e Kali (emanação feminina de Shiva).

Estas três energias, a criadora, a conservadora e a transformadora são complementares entre si. Na verdade uma está contida na outra formando o perfeito equilíbrio das forças que sustentam o universo.

Na cosmogênese hinduísta, vemos o aparecimento de Lakshmi e a maneira como ela se apresenta nas diversas fases da criação do universo. Lakshmi se manifesta a principio como poder criador e doa a Brahma este poder. É a fonte de todo poder de Vishnú. Confere a Saraswati o poder da palavra. Adverte os seres celestiais e demoníacos sobre a sua natureza destruidora e implacável caso suas normas sejam transgredidas. O amor, a compaixão, a benevolência, o perdão são características dela Lakshmi, características estas necessárias para a concretização da abundância. Lakshmi cria Dhanvantari e concede à ele o poder das curas e o conhecimento alquímico das plantas e ervas. Então, onde há ódio, inveja e doença, torna-se necessário o poder de transformação de Kali (Parvati) e, para que esta transformação se concretize surge a necessidade de iluminação, sabedoria e conhecimento de Saraswati, a fórmula que ensina como fazer para se chegar à consciência suprema. Portanto, para se obter a abundância e prosperidade de Lakshmi, necessita-se de um processo de purificação e transformação dos nossos sentimentos e das nossas mentes.

Na Índia os rituais feitos à Lakshmi durante o Festival de Diwalli (Festival das Luzes),
celebrado em 25 de outubro, costuma-se pintar as casas e deixá-las absolutamente limpas e reluzentes para que Lakshmi sinta prazer em visitá-las e derramar suas bênçãos sobre seus habitantes.

A limpeza das casas é uma alegoria ao processo de transformação interior de cada pessoa, que através da mudança dos seus sentimentos inferiores possa alcançar a pureza e todas as graças de Lakshmi.

As mães indianas, donas de casa são sempre lembradas como sendo Lakshmi, a perfeição feminina. Por ser a Grande Mãe que tudo nos proporciona, inclusive uma prole saudável fisicamente e intelectualmente brilhante, deve sempre ser reverenciada para a aquisição destas qualidades, mas sempre objetivando o nosso mais alto bem, a iluminação espiritual. Por isso no Festival de Diwalli as lamparinas permanecem acesas durante toda a semana, enquanto durar as cerimônias.Esta iluminação das lamparinas significa a dissipação da ignorância através da luz.
Portanto, seria uma visão muito restrita colocar Lakshmi somente em função de aquisição de bens materiais. Ela é Amor, Conhecimento, Cura, Felicidade, Beleza, Saúde, Fortuna, Abundância. Ela é a Totalidade.

OM SRIM MAHA LAKSHMIYEI NAMAH
“Saudações á Ela que é essa Grande
Abundância que nós saudamos e
invocamos.”

M.Bernadette Junqueira Azevedo

BIBLIOGRAFIA:
Ashley-Farrand, Thomas-” Shakti- Os Mantras da Energia Feminina”

O Bhagavad Gita
Canção Divina de Deus
Tradução: Wilmar
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